PAVILHÃO OSAKAfechar ×
2022
Concurso
Ficha técnica
Ano de Concurso:
2022
Equipe de Concurso
Arquitetura:
Cesar Shundi Iwamizu
Eduardo Pereira Gurian
Camila Yumi de Campos
Beatriz Sonnenhohl
Bruno Valdetaro Salvador
Victor Quio
Maria Fernanda Xavier
Bento Sater
Camila Caroline Silva
Gabriel Taniguchi
Imagens:
Tectónica Atelier - Giuliano Chimentão
Curadoria e Expografia:
Luiz Fernando de Almeida
José Luiz Favaro
Viviane V. Longo
Norton R. de A. Ficarelli
Consultoria:
Arquitetura | MIKAN, Manuel Tardits
Arquitetura | MIKAN, Andrea Urushima
Estrutura | KF Engenheiros, Julio Fruchtergarten
Estrutura | KF Engenheiros, Jairo Fruchtergarten
Estrutura | KF Engenheiros, Roberto Fruchtergarten
Estrutura | Kanebako Structural Engineers, Yoshiharu Kanebako
Instalações | Zo Consulting Engineers, Noriko Ito
Fundações | Cepollina Engenheiros Consultores Ltda., Boris Schpun
Sustentabilidade | Sasquia Hiruzu Obata
Comunicação Visual | Estudio Claraboia; Luciana Orvat, Felipe Daros, Yasmin Amorim e Raquel Mendes
Artistas | Nara Guichon; Henrique Oliveira
Osaka, Japão
Pavilhão do Brasil em Osaka 2025
Aproximação conceitual
A presente proposta para o Pavilhão do Brasil na Exposição Internacional de Osaka em 2025 se referencia em uma arquitetura naval, um volume pousado sobre a água capaz de reafirmar a condição geográfica primordial de Yumeshima, território insular construído artificialmente sobre o mar.
Levar o Brasil atual para o Japão em uma nau se mostra significativo ao recordarmos que em 1908, no Porto de Kobe, não muito distante do local destinado à atual Expo, se deu a partida do Kasato Maru com a primeira leva de imigrantes japoneses para o Brasil, dando origem à maior colônia de japoneses fora do país de origem.
Mas não apenas isto, foi no encontro entre a terra e a água que se iniciaram boa parte dos processos históricos em nosso país, de tantos povos que aportaram aqui e influenciaram sucessivamente a construção deste Brasil como o conhecemos hoje.
Na conjunção entre projeto arquitetônico, curadoria e expografia, pretendemos revelar tais complexidades e contradições, mas também o papel de nosso país – atualmente em processo de reconstrução – no enfrentamento das emergências ambientais e necessária implementação de uma nova cultura humanitária no planeta, temática em sintonia com a proposta da Exposição Internacional de Osaka em 2025.
Disposição arquitetônica
Dada a condição de frontalidade do lote reservado para o Pavilhão do Brasil, propõem-se a criação de generosa abertura em relação à rua de acesso público previsto pelo plano geral da Expo.
Por meio de uma ponte – onde se instala uma escultórica ‘flor do mangue’ e o mastro de nossa bandeira – se acessa gradativamente uma praça coberta e escalonada, espaço público que, a exemplo da urbanidade das vielas ou largos presentes nos centros históricos das cidades brasileiras, agrega com flexibilidade os usos culturais, comerciais, café, descanso, espera e restaurante previstos pelo edital, além do ponto de acesso ao percurso expositivo e áreas administrativas por meio de elevadores de uso controlado.
Sob esta praça, se encontram os espaços de escritórios, áreas de apoio, acesso de veículos e áreas técnicas, estrategicamente posicionados em relação à fachada posterior junto à rua de serviços, e também articulados aos demais setores por circulações variadas.
A partir do conjunto de elevadores, marco vertical posicionado externamente à fachada lateral, chega-se à cobertura-mirante onde se observa o conjunto da Expo e sua paisagem envoltória, um jardim suspenso construído por ambiência de áreas sombreadas, pisos de madeira, vegetações, minerais e água, espaço de descompressão dos visitantes que poderá ser utilizado em conjunto com as atividades imprevistas da sala de múltiplo uso.
Com um caminho em espiral descendente, inicia-se o percurso expositivo por meio de rampas de baixa inclinação e acessibilidade universal onde se evidencia a relação entre arte e arquitetura proposta pelo plano curatorial, situação que se amplifica nos quatro volumes destinados aos temas que compõem a narrativa materializada pela expografia.
Tais salas expositivas, de diferentes geometrias e posicionadas em diferentes cotas, se intercalam com vazios interiores capazes de dinamizar o espaço da praça coberta, permitindo também a integração visual entre rampas e praça, no lento circuito expositivo de atmosfera nébula e vaporosa que nos remete sensorialmente à temática dos ‘rios aéreos’, e que acompanha o visitante até o seu retorno à praça.
A tensão entre as caixas expositivas e o piso da praça é enfatizada pela materialidade e superfície curva das tramas aplicadas no ‘casco’ dos volumes angulados, produzidas a partir de redes pesqueiras abandonadas, material responsável pela absurda taxa de 60% da poluição de nossos oceanos e poeticamente apropriado por artistas e artesãs brasileiras na confecção de obras de arte, tecidos e produtos diversos, e agora utilizado como matéria arquitetônica expressiva adequada à temática naval adotada.
A coloração cinza azulada proveniente do envelhecimento natural das redes encontradas no mar se mantém tanto na composição da tessitura do forro da praça, como na escultórica Sumaúma suspensa que ocupa o vazio de maiores proporções posicionado junto ao início e desfecho do percurso expositivo, elementos de manufatura artesanal em contraste com o caráter industrial do edifício.
Plano curatorial e Expografia
O Brasil como um microcosmo que reflete o macrocosmo em uma percepção profunda sobre os desafios de constituição de uma nova cultura humanitária.
O Brasil recolocado na centralidade do debate sobre as mudanças climáticas e as opções que toda a humanidade terá de fazer para estancar o processo de degradação da natureza e da vida na terra.
O Pavilhão Brasileiro como um espaço privilegiado para a conscientização do ser humano como sujeito responsável através das suas práticas por reconfigurar a preservação do planeta.
A partir desse statement que, saudados pela Flor do Mangue, obra do artista pioneiro na conscientização da preservação da natureza Frans Krajcberg, e conduzidos por um rio aéreo, metáfora da interligação e dependência entre biomas, somos apresentados a quatro núcleos que abordam:
1. A criação do mundo
2. O homem em movimento
3. O mundo em transformação
4. Como adiar o fim do mundo?
Sala 1 – A criação do mundo
O visitante é recebido como se chegasse numa ágora da humanidade com bancos antropomórficos indígenas que os convidam a sentar ao redor da representação de uma grande árvore, a sumaúma. Sentados escutaremos um mito da cosmogonia amazônica onde é narrada a criação do mundo.
Sala 2 – O homem em movimento
Imagens expostas que mostram o ser humano como resultado de uma infinidade de migrações atemporais. No centro, uma coluna alegórica do DNA humano indica que todos somos resultado de uma ancestralidade múltipla, porém comum.
Sala 3 – O mundo em transformação
Os dilemas e tensões do nosso estágio civilizatório através de imagens que se organizam formando um labirinto que necessita ser desvendado ou, como num circuito, um chip aludindo ao mundo conectado, onde a velocidade da informação constrói realidades distintas e contraditórias.
Sala 4 – Como adiar o fim do mundo?
O último momento se organiza a partir da referência do livro de Ailton Krenak “Ideias para adiar o fim do mundo”, com depoimentos de pessoas a partir de uma curadoria sobre os tópicos: coexistência; manutenção dos ecossistemas; consumo consciente; comércio justo; o sentido da vida e o amor.
Uma cabine estará aberta a depoimentos dos visitantes que serão empoderados e provocados a também dar sua resposta, que poderá ser incorporada às projeções.
Disposição estrutural e construtiva
Ao invés de grandes gestos estruturais, optamos por uma arquitetura modular com vãos de dimensões relativamente pequenas, a exemplo da ossatura das embarcações ou da arquitetura fabril de galpões com suas estruturas e instalações aparentes, opção que não só favorece a distribuição de cargas no solo como evita o uso de fundações profundas em cargas concentradas, permitindo que as lajes e baldrames sejam demolidos e seus materiais possam ser reciclados com alguma facilidade após a conclusão do evento.
A estrutura metálica com aço reciclado proposta para este projeto pode ser produzida no Japão, já que a solução utilizada se baseia em perfis de uso corriqueiro fornecidos localmente, evitando-se o gasto desnecessário com matéria prima importada e consequente impacto em custo, prazo, processos de importação e transporte. Nota-se também que o aço reciclado reduz a dilapidação de recursos naturais provenientes de locais distantes, os custos com matéria prima e a energia para sua produção, já que não requer altas temperaturas para o derretimento do material.
Pesquisas indicam que 25% do aço produzido no Japão é proveniente de materiais reciclados (perfis H e vergalhões para concreto armado). Ainda que algum elemento estrutural utilizado no projeto não seja oriundo de um processo de reaproveitamento, entendemos que este poderá ser encaminhado para reciclagem, realizada por um grande número de empresas com suporte do governo nacional.
Pela adoção de tais princípios estruturais e construtivos, todo o projeto foi desenhado a partir da coordenação modular utilizada na indústria da construção civil japonesa (91cm x 182cm x 364cm x 455cm), inclusive no uso de painéis leves de CLT (Cross Laminated Timber) também produzidos comercialmente por muitos fornecedores locais, alguns deles situados próximos à Kansai (como Okayama e Aichi) que podem ser selecionados a fim de se evitar deslocamentos desnecessários.
Os painéis de CLT serão utilizados em suas medidas comerciais com poucos recortes e perdas mínimas, podendo ser reaproveitados em sistemas estruturais secundários de novas construções, mobiliários, produtos feitos com partículas de madeira e, em última medida, como fonte de energia combustível alternativa ao carvão.
As telas de proteção das fachadas laterais poderão ser especificadas a partir de materiais reciclados, e possuem o importante papel de garantir a proteção dos espaços internos contra as intempéries – chuvas, ventos, sol – e viabilizar um microclima da praça central e circulações sem ar condicionado convencional.
Nestas áreas abertas, será previsto um sistema de ventilação evaporativa forçado (capaz de reduzir a temperatura sem aumentar a umidade que geraria uma sensação de desconforto aos visitantes), possivelmente funcionando em conjunto com a névoa do último tramo de rampa expositiva, com o microclima criado pelo espelho d’água e, também, com o uso da água corrente para o resfriamento da tela de fachada, soluções a serem desenvolvidas durante o projeto de execução.
Tais elementos construtivos, portanto, se baseiam em processos de pré-fabricação, montagem no local e posterior desmontagem, permitindo a reciclagem dos componentes construtivos ou mesmo seu reaproveitamento em outros equipamentos arquitetônicos.
Sustentabilidade e Economia Circular
Seguindo o pressuposto do enfrentamento da emergência ambiental do planeta, propõem-se que a arquitetura deste pavilhão traga um olhar atento ao reuso de materiais, ao emprego de elementos construtivos que façam parte de uma economia circular, bem como ao empoderamento das vidas dos humanos e não humanos.
Como reflexo projetual, ao se retirar do mar os resíduos oriundos das redes pesqueiras, pretende-se chamar a atenção para a poluição de nossos oceanos, reduzindo o gasto com energia necessário à produção de novos materiais e removendo resíduos de micro-plásticos dos mares, além de proporcionar novo ciclo de vida a este material, tanto para o uso como elemento arquitetônico, quanto para sua transformação em produtos e tecidos após a desmontagem no término da feira.
A utilização de tais recursos poderá promover o contato e colaboração entre as artistas e artesãs brasileiras, com ONGs, empresas e universidades japonesas para a elaboração de propostas de reciclagem destes materiais e criação de novos produtos a partir de elementos construtivos aplicados no pavilhão.
Protagonizar novas estratégias, mesmo em um projeto pontual como este, pode dar visibilidade global a esta causa na busca pela limpeza dos oceanos, na construção de novas diretrizes para a sustentabilidade ambiental e no atendimento à meta de redução de emissão de carbono.
Legado do Pavilhão Brasileiro
É reconhecido o léxico arquitetônico brasileiro em relação à definição do pórtico estrutural como elemento arquitetônico primordial: a secção-tipo que se repete modularmente a fim de se obter o volume em um processo de extrusão.
Neste projeto brasileiro para Osaka, não se encontra um corte único que se repita indistintamente, dada à composição ‘livre’ do corte longitudinal em variadas cotas de nível, mas pode-se extrair a lógica comum definidora do pórtico estrutural de aproximadamente 12 x 12 metros.
Pretendemos instalar um destes módulos estruturais preferencialmente em área próxima ao porto de Kobe, a exemplo de um Tori japonês, possível ponto de aproximação entre as culturas, ainda que claramente distintos enquanto forma, matéria e cor.
Caso seja encontrada uma área pública adequada para tal instalação – como um parque à beira mar – propõem-se que um dos pórticos estruturais seja implantado na água, acompanhado pela escultura “flor do mangue”, moldada em bronze, e posicionada entre a água e a terra. Próximo destes, um pavilhão de apoio aos visitantes poderá ser construído a partir de peças remanescentes do pavilhão.