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Galeria dos Sussurrosfechar ×

2018

Evento, Exposição, Obra

 
 

Modelo físico, Obra

 
 

Croqui, Estudo Preliminar

 
 

Ficha técnica

Artistas:
Mariana Vaz (www.marianavaz.com)
Mirella Marino (www.mirellamarino.art.bt)

Projeto expositivo:
SIAA

Captação e edição de som:
Sandra-X

Consultoria técnica:
Felipe Julián

Cenografia:
Thiago Araujo

GALERIA DOS SUSSURROS: ESTUDO E PROPOSTA
São Paulo, SP, Brasil

Histórias e lembranças das transformações recentes do Largo da Batata são sussurradas através das paredes. Sons do passado e do presente, costurados com depoimentos de frequentadores, lojistas e moradores da região – histórias de antes e de agora – compõem a paisagem sonora. Para coletar os sussurros da Batata, abordamos os frequentadores do Largo: “Você tem histórias do Largo da Batata? Nós queremos ouví-las”. Inspirada na obra Learning Language from a Wall, de Paul Elliman.

CONCEITO DE APROPRIAÇÃO DA INSPIRAÇÃO BRITÂNICA

Como pode ser visto na foto acima, o artista britânico Paul Elliman está iluminado por um raio de sol e apoia-se na parede curva da St Paul’s Cathedral, importante construção histórica situada no centro de Londres. A foto foi tirada na “galeria do sussurro”, localizada no domo da catedral (dome’s whispering gallery). Por sua posição do artista, parece-nos estar “ouvindo os sussurros da catedral”.

A imagem integra a obra Learning Language from a Wall (2012), de Elliman, que também é composta por uma peça sonora. Ele descreveu-a como um “documentário para rádio” que conta a história do domo, da voz, da arquitetura e da tecnologia. A viagem histórica de Elliman tem como ponto de partida o fato das paredes sussurrantes da St. Paul’s Cathedral terem sido inspiração chave para a invenção do rádio. Por uma “mágica” arquitetônica, uma palavra sussurrada na curva da parede do domo pode ser claramente ouvida do outro lado da enorme galeria, desde que o receptor se coloque na “linha de voo” da onda sonora. Na peça sonora de Elliman, a história é sussurrada por Emma Clarke, cuja voz está muito presente no cotidiano londrino, nos avisos Sonoros do metrô – “mind the gap!”.

Learning Language from a Wall, de Elliman, inspira-nos para criar GALERIA DOS SUSSURROS: o quê as paredes do Centro Britânico, localizado no bairro de Pinheiros, teriam para contar  sobre a história recente da região desde sua implantação, na década de 1990?

 

MEMORIAL DESCRITIVO

Paredes sussurrantes

O Largo da Batata sempre ocupou um papel de centralidade em Pinheiros e sua trajetória serve como metonímia para o bairro. Pinheiros está para São Paulo, assim
como Brixton está para Londres. Mas em tempos de capitalismo mundializado, o processo de gentrificação não é privilégio dessas cidades – a essa lista, pode-se adicionar Berlim (Kreuzberg e Neukoll ); Rio de Janeiro (porto Maravilha) ; Recife (Projeto Novo Recife), etc. Em todos esses casos, destaca-se a (re)produção de um espaço urbano cada vez mais homogeneizado, fragmentado e hierarquizado nas cidades por meio de grandes projetos de desenvolvimento urbano e da requalificação de espaços tidos como “degradados ou mal utilizados”.

O Largo da Batata sempre foi ponto de encontro, de troca, de passagem e de permanência. No século XX, o Largo passa a abrigar a venda de produtos alimentícios e, na década de 1920, ganha o apelido “Largo da Batata”. Com a instalação da Cooperativa de Cotia na mesma década, as rotas de transporte público passaram a convergir para o local, criando um ritmo de trânsito e intercâmbio. No fim dessa mesma década, o rio Pinheiros foi canalizado e as várzeas que antes eram vizinhas do Largo foram ocupadas por residências de classe média, o que trouxe melhorias urbanas à região.

A relação com a Avenida Faria Lima influencia significativamente o desenvolvimento do bairro em duas ocasiões: (1) em 1968, durante a construção da via e (2) durante a implantação do metrô, finalizada em 2010. Foi também no contexto da “Operação Faria Lima” que a Reconversão Urbana do Largo da Batata foi aprovada, em 1995, pouco depois da Cooperativa Agrícola de Cotia deixar o local, que logo passou a ser um importante mercado para os camelôs.

O Centro Britânico, localizado na rua Ferreira de Araujo, foi inaugurado em 2000; ou seja, foi construído ao longo da década de 1990 e sua implantação acontece durante a primeira fase da Operação Faria Lima e da “reconversão” do Largo. Mesmo após inaugurado, o prédio (e os que nele trabalham, os que visitam-no, os que aí estudam, os que buscam serviço consular, etc.) testemunha as mudanças na região, motivadas tanto pelas obras da linha amarela do metrô quanto pelo processo da Operação Urbana.

Escutar

Se x visitante apressadx aproximar-se das paredes da galeria do Centro Britânico, perceberá que elas sussurram memórias: a praça super movimentada cheia de camelôs; ambulantes que vendiam ervas milagrosas de todo o tipo; casas de forró, lojas de artigos religiosos, casas de prostituição, a expulsão dos camelôs; o mercado informal que desaparece e dá lugar a um pátio deserto; os novos sons (e silêncios) do novo largo; o grande emaranhado de pontos terminais de ônibus; as ocupações atuais do “A Batata precisa de você”…

Incrustamos memórias nas paredes assépticas da sala de exposição. Depoimentos de frequentadores, lojistas, moradores da região contando histórias de antes e histórias de agora, compõem a paisagem sonora, costurados aos sons do passado e do presente descritos acima.

Para coletar as histórias, inspiramo-nos novamente na foto de Elliman e no ato de ESCUTAR. Instalaremos uma barraca no Largo da Batata para coletar “sussurros da batata” – “Conte-nos uma história sua no Largo da Batata!”. Os depoimentos serão registrados em áudio e editados com material sonoro proveniente de arquivos para compor a obra sonora Galeria dos Sussurros.

Memórias do Centro

O visitante aproxima-se da porta da sala de exposição e depara-se com “o verso”: a estrutura que ampara uma grande parede que recorta a sala construindo um outro ambiente. Do lado de fora (o que se vê à primeira-vista), as caixas-de-som, fios elétricos e a estrutura da parede.

A primeira impressão é o verso, o que se esconde, o Lado B, numa operação de DESreconversão. Nas extremidades deste anteparo, encontram-se as entradas para um outro ambiente. Ao adentrá-lo, o visitante se depara com uma galeria branca, asséptica, aparentemente vazia e pronta para receber uma nova exposição. A nova parede mimetiza-se às paredes da galeria. Onde está a obra?

Ao se aproximar da parede no meio da galeria, percebe-se o murmúrio – os sussurros do Largo.

 

FORMA DE MONTAGEM E EXEQUIBILIDADE

A estrutura que compõe a instalação proposta tanto pode ser construída em módulos e transportada para o Centro Britânico onde será montada, quanto executada integralmente no espaço da galeria de arte onde ficará abrigada.

O trabalho é composto de estrutura de madeira e acabamento em massa corrida e tinta látex, como um painel expositivo convencional; bem como um banco, realizado com os mesmos materiais e acabamentos. Este suporte receberá equipamentos de áudio em diferentes alturas e posições, instigando o visitante a descobri-los ao percorrer o espaço.

Os equipamentos e ferramentas necessários para a execução do trabalho são de uso convencional, não oferecendo risco ao espaço da galeria de arte do Centro Britânico.