top

Escola Paulista de Medicinafechar ×

Ficha técnica

Ano do projeto:
2006

Arquitetura:
Alexandre Mirandez de Almeida
Cesar Shundi Iwamizu
Giovana Avancini
Marcelo Pontes de Carvalho
Rafael Urano
Ricardo Bellio


Diadema, SP, Brasil

O PARTIDO, AO MEIO

Começar pelo que HÁ. Começar, então, pelas formas herdadas à natureza e à própria cidade.

Os “dois lotes” em que “se divide” a área da intervenção visada não são dois, a bem dizer, e claramente: o que há é UM LOTE PARTIDO AO MEIO. Um erro seria “pensá-los” em separado: “este aqui”, “aquele lá”. Um golpe de vista, tratá-los assim. E o erro seguinte, e fatal? Impor-lhe hierarquias funcionais: “isto é ‘mais’, isto é ‘menos’…”. Se existe um caminho d’água (e um fundo de vale) entre as duas metades de uma gleba, a Arquitetura está aí para vencê-los. O arquiteto não se rende a fatalidades topográficas, mas busca enfrentá-las (com a doçura E/OU a inteligência exigidas).

Arquitetura é para juntar: o que a natureza separou, o homem re-une.

NUM ponto em que tudo se toca, basta ver com atenção, encontram-se o rio e a represa, a represa e a cidade, as duas porções do vale e as duas tais “metades” em que o lote se apresenta. Por que dar as costas a isso, correr para perto da água, para longe da cidade, dar as costas à cidade (e seus trajetos)?

Postos aí onde estão, os dois edifícios propostos perfazem uma dupla operação: em primeiro lugar, frisando a unidade do(s) lote(s), desfazem o engano eventual, recusam as divisões aparentes e, fundindo-se num só, como se quer, nos fazem passar “de um lado ao outro”, por cima do córrego “empecilho”; ao mesmo tempo em que o fazem, no jogo da tensão entre os (seus) volumes, abre-se a passagem sim marcada, revelada e, agora, assinalada: a passagem da cidade à “natureza”, ou da cidade à represa, da natureza à cultura. Do alto da grande passagem, vemos a margem fronteira. Sob ela temos outra, para os mesmos fins, mas vestida de praça: PRAÇA chegada a cais e “automaticamente” nascida da simples e “natural” disposição dos volumes edificados, do “dar atenção ao que há”. Disso decorre o projeto.

Note-se que a forma e o sentido do EDIFÍCIO 1 (primeira etapa de obras) respondem ao fluxo pretendido como eixo principal, o eixo que organiza a convivência em grandes vãos e liga os “baixios” do alagadiço (ali onde agora está A PRAÇA mais baixa) ao cume da colina oeste/gleba A1 (onde existe outra praça mais alta, e um primeiro estacionamento): subimos da PRAÇA baixa à passarela, da passarela ao prédio 1 e por ele até essa “ponta”. O prédio (Edifício 1) não deixa de ser, ele mesmo, uma praça de ensino coberta e contínua, um tipo de percurso decisivo que, entre as variações de cota, termina engendrando uma ESCOLA. O trânsito “para o outro lado” do vale e a sua articulação com a grande passarela convivem com as salas de aula e pesquisa (em cumprimento ao programa, no comprimento da obra). Na cobertura do edifício, outra praça, e um jardim. Na conexão com a passarela, outra ainda, abrigada. Do “outro lado” do vale, na colina leste/glebaB, o Edifício 2 seguiria um partido semelhante: da PRAÇA do baixio, subiríamos até passarela para atingi-lo ou, de lá, desceríamos de volta à mesma praça. Os edifícios pensados enxergam-se mutuamente. O Edifício 2 alonga-se em direção à represa. O Edifício 1 aponta o próprio centro que pautou sua posição e se debruça sobre ele. O mesmo princípio de caminho-passarela nos leva do Edifício 1 ao complexo esportivo previsto, um pouco mais avançado, na gleba A1, a noroeste.

Posto aí, onde está, o Edifício 1 não prefere a represa ou a cidade: dá-se às duas, em faces igualmente abertas, não esconde a primeira e não se esconde da segunda. No respiro entre a sua instalação e o extremo da gleba A1, cria-se um parque precioso (e futuras expansões são garantidas). Ainda, no mesmo respiro, raro, cidade e arquitetura dão trégua à linha d’água.