top

EDIFÍCIO ANEXO DO BNDESfechar ×

2014

Concurso

 
 

Ficha técnica

Arquitetura

Alexandre Gervásio
Andrei Barbosa
Artur Mei
Augusto Gomide
Bruno Valdetaro Salvador
Cesar Shundi Iwamizu
Eduardo Gurian
Érico Botteselli
Fernanda Britto
Henrique Costa
Leonardo Nakaoka Nakandakari
Rafael Carvalho

Anexo BNDES
Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Os desmontes de morros marcaram a história urbana do Rio de Janeiro. As terras do morro do Senado viabilizaram o Cais do Porto. Do morro do Castelo surgiu a Urca e aterraram-se trechos da lagoa Rodrigo de Freitas. O morro de Santo Antônio já forneceu material para o Aterro do Flamengo.
O projeto para o edifício anexo do BNDES surge do mesmo ato de subtração no outrora transformado morro de Santo Antônio. Porém, diferentemente dos episódios históricos anteriores, o resultado não é um vazio aberto ao devir. O projeto segue uma estratégia topográfica pela qual a massa construída restitui e transforma o peculiar relevo desse sitio: o edifício anexo do BNDES passará a compor o morro carioca.
Percurso e platôs
Esta não é, contudo, uma operação de mimese ou destacamento da arquitetura com relação à geologia. A edificação se caracteriza por conter platôs ao ar livre que tecem o percurso de interligação entre a Avenida República do Paraguai, a atual sede do BNDES e o Convento de Santo Antônio. Desse modo, torna-se claro seu caráter infraestrutural: superfícies da construção são generosos espaços públicos, no interior do lote, que fazem costuras entre o tecido urbano e importantes prédios do Rio de Janeiro.
Subindo as escadas rolantes que vêm da calçada da Avenida República do Paraguai ou que, sob a marquise, partem da sobreloja da sede do BNDES, chegamos ao térreo elevado (cota 14 metros). Ele operará como uma praça pública, em virtude de suas dimensões e qualidades enquanto núcleo conector de distintos lugares. É um espaço para acontecimentos próprios às dinâmicas da cidade. Por meio do térreo elevado, temos acesso ao Centro de Memória, com arquivo, gravação, espaços de consulta e, principalmente, uma ampla área expositiva contígua à praça por onde se recebe o público e os empregados da instituição a caminho de seus postos de trabalho. Esse grande espaço é uma das principais recepções, tanto para os escritórios localizados nos andares superiores quanto para os programas implantados no embasamento. Sob uma das lâminas corporativas, faz-se um monumental vão livre – sem pilotis, graças à estruturação dos pavimentos superiores com treliças metálicas –, cujo sombreamento torna mais agradável o estar na nova praça.
Do térreo elevado partem escadas rolantes para um pátio na cota 18 metros. Nele temos o acesso à lâmina mais ao norte, com uma recepção destinada aos funcionários da estatal e, principalmente, desse pátio partem dois lances de escada rolante que alcançam a altura do Convento de Santo Antônio. Tal trecho da cobertura do edifício torna-se um belvedere para se admirar o tecido histórico do Rio de Janeiro: por um lado, a praça Tiradentes, o Saara e os bairros da zona norte, e, por outro, a Lapa e Santa Teresa, tudo circundado pela maravilhosa cadeia de montanhas com a Floresta da Tijuca.
Nesse percurso ascendente e aberto a qualquer cidadão, o edifício em si passa a ser uma reconstrução da topografia. Não é uma subida linear e direta até o monumento, mas uma promenade, com os platôs para o estar e as distintas direções das escadas que posicionam o olhar para novas visadas da cidade.
Esculpir vazios
Tendo como premissas do concurso um programa com grande variedade de tipologias espaciais, as limitações dimensionais do lote – comparativamente à área total a ser construída – e o limite de altura da edificação ao alinhar-se ao topo do morro de Santo Antônio, o partido geral do projeto é de ocupar a totalidade do terreno e nele esculpir vazios, provendo os espaços com o máximo de luz.
Seguindo essas diretrizes, nos andares superiores é adotada uma lógica morfológica de um pente. Ao fundo do lote, em um núcleo estrutural linear, concentram-se as circulações verticais, os prismas de instalações e os sanitários. Tal linha construída também opera como plano de contenção da massa que compõe o morro. Paralelo a esse núcleo, um largo corredor conecta as quatro lâminas corporativas com 11 metros de largura e diferentes comprimentos. Tais dimensões são convenientes para áreas de escritórios com a devida qualidade ambiental e modulação de mobiliário (segundo o padrão BNDES, com múltiplos de 1,25m). Essas lâminas são intercaladas com generosos vazios, que chegam até a cota dos platôs. As fachadas são distintas de acordo com sua orientação: as faces norte contêm peles em chapa metálica perfurada, as faces sul têm transparência total ao serem plenamente envidraçadas, e as faces oeste – paralelas à Avenida República do Paraguai – são protegidas por brises verticais.
Os vazios acima do térreo elevado e do pátio ao norte, de certa maneira, são os responsáveis pela forma exterior da edificação. Porém, eles não são os únicos. Existem dois grandes vazios no interior do embasamento, composto por sete andares – seis escavados no subsolo, com diversos programas e amplas áreas destinadas ao estacionamento.
O maior desses “núcleos ocos” é uma espécie de “negativo” de uma das lâminas corporativas superiores, com aproximadamente 25 metros de altura. Ao seu redor, estão diversas salas de trabalho e pesquisa onde os usuários podem permanecer em espaços em contato com a luz natural. Pisos corporativos, o Centro de Estudos e Desenvolvimento de Competências, o Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, o Espaço Qualidade de Vida e a Área com Infraestrutura de Telecomunicações e Tecnologia da Informação (com uma ligação subterrânea com o edifício sede da instituição) envolvem esse núcleo vazio. Nota-se grande flexibilidade nas dimensões e no divisionamento dessas salas, por se implantarem em uma planta livre de estruturas – como no vão livre do térreo elevado, as cargas estruturais estão concentradas em poucos pontos de apoio.
O segundo vazio é em parte composto pelo foyer de entrada do público pela Avenida República do Paraguai, com seu pé-direito duplo. Por esse espaço de acesso, entramos no auditório para 250 pessoas. Ao fundo desse grande hall, temos um trecho, um recorte no piso, que amplia o vazio ao andar inferior, acessível por uma escada em espiral em direção ao Centro de Informação e Conhecimento do BNDES (Biblioteca).
Em síntese, o anexo do BNDES torna-se uma topografia construída no morro de Santo Antônio, com espacialidade e morfologia determinadas na operação de esculpir os vazios no interior de um lote compacto.