Conjunto Esportivo do Ibirapuerafechar ×

São Paulo, SP, Brasil

O Conjunto Esportivo “Constâncio Vaz Guimarães” é um dos principais equipamentos públicos destinados à exibição de acontecimentos esportivos e eventos na cidade, seja por sua localização central, seja pela dimensão do patrimônio construído, capaz de abrigar uma grande diversidade de modalidades esportivas.

A modernização do conjunto pretende restituir importância a esse equipamento público, permitindo a realização de competições de prestígio nacional e internacional e espetáculos diversos não necessariamente ligados às práticas esportivas, além de consolidar a utilização desse complexo como centro de treinamento e formação de atletas.

A intervenção no conjunto evita a ideia de modernizar os edifícios de maneira isolada, buscando uma solução capaz de interligar o conjunto a partir de uma visão eminentemente urbana, determinada por uma leitura cuidadosa dos edifícios existentes e das cotas do terreno, associada à organização e adequação dos programas.

O partido do projeto é criar um edifício horizontal que redefine a própria ideia do lote e do pavimento térreo. Uma plataforma que interliga todos os edifícios e determina, a partir de duas cotas básicas, uma esplanada de caráter público na cota superior (759,50) e as funções complementares e de apoio aos edifícios esportivos na cota inferior (755,40). Essa separação instituída pela plataforma encontra um paralelo nos edifícios existentes a partir das intervenções realizadas, tornando possível, apesar das diferenças marcantes de cada um deles, a criação de uma secção tipo para todos os prédios, situando programas técnicos adjacentes às arenas na cota 755,40 e circulações públicas das arquibancadas na cota 759,50 da esplanada. A determinação desse nível superior parte da coincidência entre a cota de acesso do Ginásio Mauro Pinheiro, dos mezaninos e arquibancadas do Ginásio Geraldo José de Almeida e Estádio Ícaro de Castro Mello e o embasamento existente no Conjunto Aquático.

Assim, a plataforma de ligação se acomoda ao terreno de maneiras distintas, ora como uma esplanada na cota da rua (com os programas de apoio enterrados), ora como uma esplanada elevada em relação à rua, com acessos por meio de rampas que assumem a dimensão de verdadeiras praças inclinadas (continuidade natural da esplanada construída e do solo). Nesse caso, os programas de apoio da cota 755,40 se voltam para a rua, assumindo um caráter público (restaurante, lojas, Museu do Esporte, Praça de eventos) ou semipúblico (Centro de imprensa e Centro de Convenções).

Essa nova configuração espacial do conjunto determinou a realização de mudanças profundas em cada um dos edifícios, uma reordenação que deixa apenas os programas estritamente necessários ao funcionamento dos edifícios esportivos na cota 755,40. De maneira geral, os mezaninos adjacentes à nova esplanada se tornaram absolutamente livres de programas, espaços à semelhança de um foyer de um teatro, lugares de recepção e permanência capazes de realizar a transição entre o espaço público e o recinto do espetáculo. Esse procedimento revela as estruturas principais dos edifícios existentes (planos inclinados das arquibancadas, arcadas e pórticos de sustentação dos edifícios), contrariando a criação de edifícios esportivos geralmente fechados.

Os programas situados de maneira inadequada sob as arquibancadas de cada um dos edifícios ou fora da organização geral do conjunto (como habitações de atletas, federações esportivas e salões de ginásticas ou lutas) foram incorporados em uma nova construção. O mesmo vale para os equipamentos esportivos e outros edifícios implantados aleatoriamente pelo lote.Essa nova edificação, uma torre de 66 metros de altura, é formada por uma lâmina (vestiários e federações) e uma grande caixa para a prática de esportes. As circulações das prumadas de elevadores são complementadas por rampas que percorrem ora o espaço entre os dois volumes (com visuais para a cidade), ora o interior dos recintos esportivos. Na cobertura do conjunto, em torno de um pátio, estão concentrados os alojamentos dos atletas, solução que também permite a chegada de luz natural ao ambiente das piscinas.

Esse novo edifício completa o conjunto, incorporando a Praça Arquiteto Ícaro de Castro Mello em seu térreo. Com isso, cria-se um novo espaço a partir da remodelação do sistema viário e se transforma um desenho imposto pelos automóveis em uma praça de chegada para o conjunto.Outra obra viária proposta para melhorar a acessibilidade do conjunto é uma nova rua entre o terreno do complexo e a área pertencente ao Exército. Tal possibilidade redefine o desenho do quarteirão, criando uma divisão desejável em uma quadra tão extensa, além de permitir que todos os edifícios, sem exceção, sejam voltados para duas frentes: as ruas de acesso e a plataforma de ligação.

O estacionamento atual foi substituído por uma construção enterrada, composta de dois espaços principais: parada de ônibus com pé-direito duplo, localizada abaixo da plataforma de ligação, e dois pavimentos para automóveis (1160 vagas) localizados abaixo do gramado do estádio. Os acessos são feitos por dois eixos principais que ficam livres de interferências com as fundações dos edifícios existentes.

A partir das condicionantes gerais, as propostas para o Ginásio Geraldo José de Almeida são as seguintes: a restituição do anel superior em sua totalidade, a construção de quatro mezaninos metálicos suspensos para as tribunas de imprensa e camarotes, e, por fim, a construção de um cilindro de 80 metros de diâmetro que ocupa o lugar de todo o anel inferior das arquibancadas, adequando o espaço de competição aos padrões internacionais e corrigindo a curva de visibilidade de toda arquibancada. A nova configuração aumenta a permeabilidade do edifício sem alterar sua volumetria ou fachada, marco referencial extremamente presente na paisagem e elemento representativo de todo complexo.

No caso do Conjunto Aquático, a intervenção de maior interesse consiste na criação de um abrigo para o recinto das piscinas, já que a configuração original do edifício é extremamente favorável ao partido geral, admitindo novos programas ou remodelações de espaços sem grandes problemas. Dessa maneira, imaginou-se um teto com iluminação zenital e vão livre de 80 metros, elemento capaz de cobrir todo o edifício sem nunca tocar as estruturas existentes. Os pilares dessa cobertura extrapolam a função estrutural, abrigando os programas de apoio (sanitários, cafés e tribunas) e organizando a circulação de toda a arquibancada.

A alteração fundamental no Estádio Ícaro de Castro Mello diz respeito à circulação pública. A cota da nova esplanada viabiliza acessos francos distribuídos ao longo de todo o perímetro do estádio. As escadas existentes são substituídas por passarelas de ligação, resultando em deslocamentos verticais mínimos em todos os setores: sob a arquibancada principal é criado um foyer de chegada, enquanto no restante, a intervenção prevê a remoção do trecho central a fim de solucionar a situação de conflito com o Ginásio Mauro Pinheiro. Para aumentar a capacidade de público novos assentos cobertos são criados sob as arquibancadas remanescentes e, substituindo o trecho demolido, uma nova arquibancada é implantada como uma continuidade natural do terreno entre as cotas 759,50 e 755,40.

A modernização do Ginásio Mauro Pinheiro requer uma transformação completa, desde o redimensionamento de sua arena até o redesenho de suas arquibancadas e circulações. Assim, imaginou-se novas possibilidades espaciais: uma quadra rebaixada em relação à esplanada de acesso público (cota 759,50), posicionada junto aos programas de apoio (cota 755,40), arquibancadas laterais suspensas e novas torres de circulação, tudo isso abrigado pela cobertura de concreto existente, livre de interferências de estruturas complementares, resultando em uma edificação alinhada às ruas adjacentes.